Gestão e Qualidade, Mundo | 7 de julho de 2020

Virginia Mason se reinventa com uso da telemedicina alinhado à sua cultura baseada em valor

Artigo do CEO Gary S. Kaplan e equipe médica foi publicado em revista especializada
Em meio à pandemia, Virginia Mason se reinventa com uso da telemedicina alinhado à sua cultura baseada em valor

Antes da pandemia da Covid-19, pacientes dos Estados Unidos costumavam viajar longas distâncias para realizar procedimentos cirúrgicos complexos nos hospitais considerados Centros de Excelência (COE, na sigla em inglês), que atendem sob critérios rigorosos de segurança e qualidade. Basicamente é um movimento comum que consiste em buscar centros especializados com atendimento considerado excepcional e de alto valor (melhores resultados) em procedimentos específicos, como cirurgias de coluna ou de substituição total de joelho.

Nos EUA, grandes empregadores como a rede de varejo Walmart, firmam contratos com os COEs para atender seus funcionários, cujas viagens e possíveis cirurgias são, em muitos casos, totalmente custeadas. Em outros situações, os pacientes de forma individual, viajavam longas distâncias, em busca de atendimento especializado e de alta complexidade, como é o caso das cirurgias de coluna. Dentre os centros considerados de excelência no EUA, estão Mayo Clinic, Johns Hopkins, o Geisinger Health Sistem e o Sistema de Saúde Virginia Mason, de Seattle.

O Virginia Mason é referência mundial por adotar em suas estratégias o conceito de saúde baseada em valor, com forte influência de práticas de gestão baseadas no Lean Healthcare. Em texto publicado no site da Harvard Business Review norte-americana, Gary S. Kaplan (CEO), Michael G. Glenn (CMO) e os médicos Aditya V. Karhade e Rajiv K. Sethi do Virginia Mason detalham como a instituição está modificando seus processos em decorrência da pandemia. No artigo, os autores destacam as vantagens identificadas com o uso da telemedicina dentro do modelo Seattle Spine Team Approach (Abordagem da Equipe da Coluna de Seattle). E como foi possível adaptar este modelo para fornecer agilidade de resposta a pacientes – receosos, distantes ou ambos -, e para a decisão de realizar ou não cirurgias urgentes de coluna.

Histórico de investimentos na telemedicina

Investimentos anteriores em tecnologia de telemedicina garantiram a possibilidade de o Virgina Mason continuar oferecendo atendimento remoto para pacientes com problemas de coluna. Encontros virtuais com pacientes, conferências virtuais de equipes clínicas perioperatórias e multidisciplinares equalizaram as dificuldades trazidas pela diminuição drástica nas cirurgias e no fluxo de pacientes – em maior parte nas áreas não relacionadas ao atendimento da Covid-19.

Redução das cirurgias 

Assim como em todo o mundo, as lideranças apontam que as restrições de deslocamento impostas pela pandemia mantiveram pacientes oriundos de outros estados, afastados da unidade em Seattle. Além disso, temendo a infecção pelo novo vírus, pacientes que vivem próximo ao Hospital estavam adiando consultas necessárias. De acordo com os autores, a proibição de procedimentos eletivos resultou em redução precipitada do número de atendimentos e queda profunda nas receitas. “As pressões financeiras estavam se intensificando”, resumem.

A pandemia forçou o Virginia Mason a responder rapidamente aos novos desafios clínicos, com a necessidade de desenvolver novas formas de coordenar as equipes e de se envolver com a segurança dos pacientes, incluindo aqueles que necessitam viajar em direção ao Virginia Mason para uma cirurgia complexa de coluna.

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Abordagem multidisciplinar aos cuidados baseados em valor: Seattle Spine Team Approach

Como muitas organizações líderes, o Virginia Mason enfatiza uma abordagem multidisciplinar e de cuidados baseados em valor, que se concentra na melhoria dos resultados e na redução de custos. O modelo Seattle Spine Team Approach é um exemplo deste tipo de cuidado, fundamentando em uma atenção abrangente, mas específica para cada tipo de condição. A abordagem envolve conferências de equipe pré-cirúrgicas (agora realizadas virtualmente) que incluem cirurgiões ortopédicos, neurocirurgiões, fisiatras, especialistas em medicina da dor, enfermeiras especializadas e auxiliares de medicina, hospitalistas, psicólogos e anestesiologistas.

As conferências, juntamente com a exigência de que dois cirurgiões assistentes estejam presentes durante cirurgias complexas de coluna, assim como a instituição de um protocolo de anestesia intraoperatória sob medida, resultaram em redução de cerca de três vezes nas principais complicações. Muitos membros da equipe veem essas conferências como um ponto fundamental de todo o programa de tratamento da coluna, desenvolvido sob os parâmetros do método Lean Healthcare.

Quando um paciente é encaminhado para cirurgia da coluna, a equipe realiza uma conferência virtual de liberação do paciente para avaliar se ele se beneficiará decisivamente do procedimento ou se será tratado com a mesma eficácia sem a cirurgia. (Os autores apontam: “em nossos estudos anteriores de visitas pessoais em que pacientes referenciados precisavam de cirurgia lombar, descobrimos que 58% na verdade não precisavam”). Para os pacientes considerados candidatos à cirurgia, a equipe determina quais requerem cirurgia imediata e iniciam a “otimização” pré-cirúrgica, avaliando os pacientes quanto a fatores de risco cirúrgicos como obesidade, diabetes ou tabagismo. Em casos não urgentes, a equipe adia a cirurgia.

Ao adotarem o formato de conferência virtual, os autores afirmam que foi observado aumento no volume de atendimento. Além disso, foi observado uma maior facilidade de adesão às agendas do que nas reuniões presenciais anteriores, principalmente dos médicos que precisam atuar em diferentes locais. Como resultado, a equipe da coluna agora adota as conferências virtuais de liberação de pacientes como seu “novo normal” e espera continuar com essa modalidade, mesmo depois que as restrições às reuniões pessoais forem suspensas.

CEO do Virgina Mason Gary S. Kaplan

CEO do Virgina Mason Gary S. Kaplan

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Agilidade ao integrar cuidados virtuais e práticos

Um caso recente ilustra a integração aos novos modelos de atendimento virtual. Um homem de 57 anos, do Alasca, apresentava fraqueza progressiva nos braços e pernas e, durante várias semanas, não conseguiu uma avaliação ambulatorial oportuna devido à pandemia. Como seus sintomas se agravaram, seu médico local o encaminhou aos médicos do Virginia Mason. A equipe realizou uma conferência de atendimento virtual e, no mesmo dia, uma consulta com o médico local determinou que o paciente necessitaria de cirurgia reconstrutiva complexa da coluna cervical. No dia seguinte, o paciente já estava em um avião do Alasca para Seattle para se submeter a uma cirurgia no Virginia Mason. Duas semanas depois, o paciente retornou ao Alasca e toda a comunicação adicional com o paciente e o médico local foi conduzida virtualmente. Três meses após a cirurgia, o paciente recuperou o uso total dos braços e pernas e voltou ao trabalho. A equipe do Virginia Mason segue o acompanhando por meio de visitas virtuais em série que incluem o cirurgião, assistentes médicos especializados em coluna e de reabilitação e farmacêuticos.

Está claro que, daqui para frente, muitos pacientes não cirúrgicos poderão receber uma avaliação e tratamento abrangentes sem precisar se deslocar. Esses pacientes podem ser gerenciados virtualmente por especialistas em coluna e orientados a continuar seus tratamentos virtualmente. Os autores ressaltam que, com o atendimento multidisciplinar virtual, aumentou o acesso a cuidados de qualidade e, com a diminuição das viagens necessárias, houve redução drástica dos custos de avaliação e de tratamento. Igualmente, reforçou o cuidado com foco na segurança do paciente.


Três pontos positivos das mudanças implementadas:

As conferências multidisciplinares virtuais e a telemedicina permitem fornecer o seu modelo de atendimento a todos os pacientes. Para pacientes em casa após a cirurgia, a telemedicina permite um acompanhamento próximo e oportuno, sem o ônus da viagem.


As conferências virtuais podem melhorar o atendimento, permitindo avaliações no mesmo dia e identificação em tempo real da urgência e das necessidades dos pacientes, agilizando a triagem imediata. Além disso, eles podem servir como um recurso de consulta para centros médicos que encaminham pacientes.


O potencial da atual crise da Covid-19 pode ser catalisador de um melhor paradigma de atendimento baseado em valor.


Com informações da Harvard Business Review (EUA). Edição do Setor Saúde.

 



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