Mundo | 27 de junho de 2014

Uso crônico de antiácidos prejudica absorção de nutrientes, vitaminas e minerais

Alerta para o risco de fraturas e infecções causado pelo consumo indiscriminado de omeprazol e similares
Uso crônico de antiácidos prejudica absorção de nutrientes, vitaminas e minerais

O uso indiscriminado de antiácidos para tratar azia e refluxo tem gerado preocupação por parte da FDA (agência norte-americana reguladora de fármacos e alimentos). O consumo prolongado e em altas doses pode causar a má absorção de nutrientes, vitaminas e minerais, além de aumentar o risco de fraturas e infecções.

Drogas como omeprazol e esomeprazol, os inibidores da bomba de prótons (IBPs), bloqueiam a produção de ácido no estômago, prevenindo complicações como úlceras. No Brasil, a venda desses remédios mais do que dobrou nos últimos anos, indo de 23,13 milhões de unidades em 2010 para 51,41 milhões nos últimos 12 meses (até abril).

Paulo Olzon, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), critica esta prática: “Cria-se uma dependência. Tenho pacientes que usam por anos. Muitos dos que têm azia e doença do refluxo estão acima do peso e não conseguem emagrecer. Temem deixar de tomar o remédio e voltar a sentir a queimação”, explicou o profissional. Má alimentação, ansiedade e uso de outros remédios são os principais fatores para o desenvolvimento desses incômodos.

As pessoas buscam nos IBPs uma forma de controlar sintomas incômodos de forma simplificada, já que não precisam fazer mudanças no estilo de vida, como perder peso ou readequar os hábitos alimentares.

O recomendado (inclusive de acordo com a bula) é usar os remédios com intervalos de duas a oito semanas, dependendo do quadro, o que é superado em grandes doses por consumidores mais frequentes.

O corpo produz ácido no estômago, que atua na decomposição dos alimentos, absorção de nutrientes e combate bactérias. O uso abusivo de antiácidos interfere no processo, reduzindo a absorção de cálcio, magnésio, vitamina B12, entre outros.

A FDA alerta que esse comportamento pode aumentar o risco de fraturas ósseas e de diarreias causadas pela bactéria Clostridium difficile, que é mais perigosa para idosos.

Se por um lado a diminuição da absorção de vitaminas (associada ao maior risco de demência) é bem documentada através de pesquisas, não há a mesma confirmação científica de que os IBPs causem problemas graves. Alguns estudos, contudo, já demonstraram que omeprazol em conjunto com clopidogrel (anticoagulante) pode enfraquecer o efeito protetor do último.

Um trabalho realizado pela operadora norte-americana Kaiser Permanente acompanhou 200 mil pessoas, ao longo de 14 anos. Os resultados mostraram que aquelas que tinham consumo diário (por dois anos ou mais) de 40mg de omeprazol apresentaram 65% mais chances de ter níveis baixos da vitamina B12.

 

VEJA TAMBÉM