Mundo | 22 de setembro de 2016

Uma pomada contra a acne por “apenas” R$ 32 mil

Aumento de preço gera ainda mais críticas contra a indústria farmacêutica
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A companhia Novum Pharma aumentou o preço de uma pomada para acne na semana passada, e causou novas críticas contra a indústria farmacêutica e sua política de preços. Um tubo de 60g de Aloquin, usado para tratar acne e eczema, teria subido para US$ 9.561, chegando a custar R$ 32 mil (na cotação do dia 21).

O Aloquin custava US$ 241,50 em maio do ano passado, quando pertencia a outra empresa, a Primus Pharmaceuticals. Como nova proprietária da marca, a Novum, subiu o preço por três vezes, numa alta total de 3.900%.

Este escândalo não é, infelizmente, o primeiro nos Estados Unidos. Ele vem na esteira de outro caso envolvendo a empresa farmacêutica Mylan. Em dez anos, ela aumentou seis vezes o preço do EpiPen, um tratamento para combater alergias que podem ser fatais (anafilaxia). O aumento do EpiPen é considerado ainda mais imoral, já que é um tratamento fundamental e essencial – não há nenhum produto concorrente disponível no mercado.

Já o laboratório Turing chamou atenção em 2015, ao aumentar da noite para o dia, o preço de um medicamento para pacientes com AIDS (pirimetamina).

No caso do Aloquin, segundo o jornal Financial Times, os dois ingredientes principais – iodoquinol e um derivado da aloe vera – não são caros. Um creme genérico pode ser comprado nos EUA por menos de US$ 30 (cerca de R$ 96).

A bula da pomada, porém, informa que ela é “possivelmente efetiva”. Isso significa que a agência que regula a venda de medicamentos nos EUA, o FDA (Food and Drug Administration), considera que há evidências clínicas limitadas, ou seja, os reguladores definiram que havia “pouca evidência” da eficácia.

“Buy and raise”

Ainda, segundo o Financial Times, nos últimos anos, farmacêuticas têm usado a estratégia de comprar o direito de produzir remédios e aumentar drasticamente seus preços, prática que ficou conhecida como “buy and raise” (comprar e aumentar, em inglês).

O objetivo da tática, segundo a publicação, é comprar e aumentar o preço de remédios que não são usados por muitas pessoas. Esses medicamentos não costumam ter versões concorrentes ou genéricas, porque o custo para desenvolvê-las não justifica o potencial de vendas.

Os preços dos medicamentos vêm causando grande preocupação por parte dos governos em todo o mundo. Nos EUA, por exemplo, um grupo de empresas farmacêuticas criou ações para tentar demonstrar que os preços cobrados, principalmente de novas drogas para tratamento da hepatite C e câncer, são justificáveis.

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