Gestão e Qualidade | 1 de agosto de 2016

Superintendente da ONA fala com exclusividade sobre a nova parceria com a ANS

Maria Carolina Moreno destaca objetivos do novo projeto, avanços da ONA e remuneração dos prestadores de serviços de saúde
Superintendente da ONA fala com exclusividade sobre a nova parceria com a ANS

A superintendente da Organização Nacional de Acreditação (ONA), médica Maria Carolina Moreno, falou com exclusividade para o portal de notícias Setor Saúde sobre a participação da entidade como nova colaboradora do Programa de Qualificação de Prestadores de Serviços de Saúde (Qualiss), da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).

O objetivo da parceria é desenvolver um programa de indicadores para medir, coletivamente e por prestador, a qualidade dos serviços de saúde suplementar. A previsão é que os critérios para o cálculo dos indicadores se tornem públicos a partir de outubro, quando o programa deve ser homologado pela ANS. As instituições de saúde poderão aderir ao programa de indicadores de forma voluntária e gratuita, independente da acreditação. Os dados serão encaminhados à ANS pela ONA.

Maria Carolina destacou os avanços da atuação da ONA, de projetos a nível nacional, dos objetivos da nova parceria com a ANS e da influência de fatores como remuneração para a adesão de novos estabelecimentos em programas de qualidade da saúde. Leia abaixo:

Setor Saúde:  A adesão aos programas de certificação da qualidade avançou bastante nos últimos anos. Mesmo assim alguns levantamentos apontam que menos de 5% dos hospitais no Brasil, aderiram ao processo de certificação líder de mercado. Mesmo dominando frente às certificações internacionais, quais são os principais esforços da ONA na busca pela mudança deste cenário?

Maria Carolina Moreno: A ONA vem fazendo campanhas para estimular discussões acerca da acreditação. Criamos em parceria com o SindHosp [Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo] o projeto Bússola para estimular a acreditação em clínicas, e já chegamos ao terceiro ano de atividade. Viajamos todo o país para falar sobre gestão da qualidade, com eventos em parceria com Aherj [Associação dos Hospitais do Rio de Janeiro], HospitalMed [de Recife] e FENAESS [Federação Nacional dos Estabelecimentos de Saúde]. Além disso nossa área de educação a distância tem crescido, com cursos sobre Acreditação, Gestão de Qualidade, Indicadores e todo tipo de formação para disseminar a cultura de segurança do paciente, seja entre acreditados ou não. Nosso objetivo é mostrar para os gestores das organizações de saúde que a acreditação pode ser uma ferramenta que vai ajudá-los a melhorar o serviço visando a segurança do paciente. A avaliação da ONA engloba aspectos da gestão de pessoas, da gestão sustentável das finanças, estoque de suprimentos, processos de planejamento da assistência, participação do paciente no cuidado, tudo o que possa interferir na segurança do paciente e na qualidade da assistência prestada. A acreditação é uma avaliação de terceira parte, externa, isenta e que analisa a qualidade da organização a partir de padrões pré-estabelecidos. Para alcançar esses padrões, as organizações precisam aprender a enxergar a sua atuação de uma outra maneira, a reconhecer falhas e identificar em quais processos os pacientes precisam estar mais envolvidos, por exemplo. Dessa maneira, os gestores podem utilizá-la como uma forma de mostrar como está gerindo a organização com um olhar externo. Melhorar a qualidade do sistema de saúde no Brasil é um grande desafio. Somos um país continental, com muitas diferenças regionais. Em cada local temos características muito específicas que geram necessidades diferentes para as organizações de saúde. A infraestrutura precária, as longas distâncias em determinadas regiões prejudicam os fluxos de atendimento e a gestão de suprimentos. Até a gestão de pessoas é afetada pela localização de uma instituição de saúde, já que fora de grandes centros é mais difícil recrutar e reter talentos. Ou seja, cada organização precisa superar uma série de desafios para ter um bom nível de qualidade. Mais do que difundir a acreditação, porém, é importante que os padrões de qualidade e segurança sejam conhecidos e perseguidos pelas organizações, mesmo as que ainda não são acreditadas.

Setor Saúde: De que forma a parceria com a ANS irá se desenvolver e quais os principais objetivos? A que tipo de prestador se destina?

Maria Carolina Moreno: A ONA foi convidada pela ANS para ser uma colaboradora do Qualiss. Estamos desenvolvendo um programa de indicadores juntamente com a 2iM [empresa de tecnologia com soluções focadas no conceito de Business Analytics em Saúde] que poderá ser utilizado gratuitamente por qualquer organização, seja acreditada ou não. O objetivo dele é as organizações de saúde a analisar suas ações, identificar possíveis falhas e com isso melhorar o serviço oferecido. Além disso, vamos gerar dados sobre o setor de saúde complementar como um todo, ajudando a dar um horizonte para a definição de novas políticas para o setor. O Qualiss visa estimular a qualificação dos prestadores de serviços na saúde suplementar e aumentar a disponibilidade de informações. O intuito é ampliar o poder de avaliação e escolha de prestadores de serviços por parte das operadoras e dos beneficiários de planos de saúde. O programa se destina a todos os prestadores de serviços integrantes da rede assistencial das operadoras.

Setor Saúde: As Instituições Acreditadoras (IACs) credenciadas pela ONA e responsáveis pelas avaliações pela metodologia do Sistema Brasileiro de Acreditação terão alguma participação nesta fase do projeto? E após?

Maria Carolina Moreno: A princípio as IACs não terão uma participação direta no projeto. É importante destacar que esses indicadores não são ligados à acreditação, eles podem ser adotados por qualquer organização.

Setor Saúde: É possível dizer que a melhoria da segurança do paciente somente avançará no Brasil se tiver atrelada a fatores como remuneração dos prestadores e divulgação ampla aos consumidores de quais instituições apresentam os melhores índices de qualidade e segurança ao paciente?

Maria Carolina Moreno: Esse é um tema delicado. Sem dúvida a remuneração ligada a índices de qualidade e segurança é fundamental para a melhoria do sistema, mas é preciso que esse pagamento diferenciado não inviabilize a operação de tantas organizações que ainda buscam chegar ao nível exigido. A remuneração deve estimular a melhoria contínua da qualidade e ser um incentivo a mais também para as organizações que caminham em direção a uma assistência melhor.

    Sobre a ONA

A Organização Nacional de Acreditação (ONA) é uma entidade não governamental e sem fins lucrativos que certifica a qualidade de serviços de saúde, com foco na segurança do paciente. Sua metodologia de acreditação é reconhecida pela ISQua (International Society for Quality in Health Care), associação parceira da OMS e que conta com representantes de instituições acadêmicas e organizações de saúde de mais de 100 países. Com 17 anos de atuação e mais de 500 instituições certificadas, a ONA se consolidou como a principal acreditação de saúde do país. Seus manuais são específicos para nove diferentes tipos de estabelecimentos: hospitais, ambulatórios, laboratórios, serviços de pronto atendimento, home care, clínicas odontológicas, clínicas de hemoterapia, serviços de terapia renal substitutiva e serviços de diagnóstico por imagem, radioterapia e medicina nuclear. A ONA também certifica serviços de apoio a instituições de saúde, como lavanderia, dietoterapia, esterilização e manipulação.

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