Tecnologia e Inovação | 16 de setembro de 2016

Neurologia do Hospital São Lucas conquista destaque internacional

Trabalho desenvolvido permitirá testar medicamentos para doença rara
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Investigações desenvolvidas no Serviço de Neurologia posicionam o Hospital São Lucas da PUCRS (HSL) entre as principais instituições do mundo na área da Síndrome da Encefalopatia Posterior Reversível (Pres).

A doença rara foi objeto de pesquisa no mestrado e no doutorado do neurologista Luiz Carlos Porcello Marrone, sob orientação do diretor do Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul (InsCer), Jaderson Costa da Costa. O trabalho analisou 61 casos ocorridos no Hospital, cujos pacientes seguem em acompanhamento. O número expressivo posiciona o banco de dados como o quarto maior do mundo.

Essas informações, somadas ao trabalho desenvolvido no Centro de Pesquisa Pré-Clínica do InsCer, permitiram a criação do primeiro modelo experimental que permitirá testar, em laboratório, medicamentos específicos para a doença.

“Não existe ainda um tratamento efetivo para a Pres, só sabemos como controlar a pressão arterial desses pacientes. Se quero testar um medicamento, não posso dar diretamente a uma pessoa com a síndrome. Preciso treinar em um modelo experimental e o único existente é o nosso. Quem quiser pesquisar tratamentos específicos, vai usá-lo”, explica Marrone.

Os estudos renderam, até o momento, a publicação de 12 artigos em revistas internacionais; dois deles estão no Journal of Stroke and Cerebrovascular Diseases, dos Estados Unidos. O feito posiciona a Instituição entre as que mais publicaram sobre o tema.

A Pres caracteriza-se pelo aumento súbito da pressão arterial em quem não é hipertenso, podendo gerar quatro sintomas: dor de cabeça, alteração visual, crises convulsivas e coma. O quadro clínico costuma ser revertido em duas semanas. Nos casos analisados no HSL, mais da metade ocorreu em gestantes, principalmente nas que apresentaram eclâmpsia e pré-eclâmpsia. Identificaram-se diferenças entre pacientes não gestantes e gestantes e entre aqueles com acometimento somente na parte posterior do cérebro e outros em que a parte frontal também foi afetada. Este último grupo demonstrou maior gravidade.

Doença é pouco conhecida

A síndrome, pouco conhecida, é diagnosticada com a análise de características clínicas e radiológicas. Segundo Marrone, a equipe do Hospital está treinada para reconhecer o problema. “Quando se diagnostica um paciente com Pres, modifica-se o tratamento de acordo com o fator desencadeador do problema. É feito um controle mais agressivo da pressão arterial, proporcionando melhora nos sintomas”, ressalta. O trabalho contou com a parceria dos serviços de Nefrologia, Obstetrícia, Reumatologia, Cardiologia, Pediatria, Oncologia e Radiologia.

O modelo desenvolvido baseou-se em outro de eclâmpsia e pré-eclâmpsia usado pelos nefrologistas Giovani Gadonski e Carlos Eduardo Poli de Figueiredo e pela professora Bartira Ercília Pinheiro da Costa, pesquisadora do Instituto de Pesquisas Biomédicas da PUCRS. O projeto foi realizado na Pós-Graduação em Medicina e Ciências da Saúde e insere-se no Programa Neurovascular do Serviço de Neurologia. A partir dele, outros estudos podem ser realizados nessa linha de pesquisa. A tese foi defendida em março de 2016 com a presença do neurologista Ayrton Massaro, do Hospital Sírio Libanês (São Paulo), um dos maiores especialistas da área neurovascular do País, que está iniciando uma parceria científica com o grupo do InsCer.

O que o banco de dados revela sobre a Pres:

– Afeta quatro mulheres a cada homem;

– 25 anos é a média de idade;

– Dor de cabeça é o sintoma mais comum, seguido de alteração visual;

– Pacientes apresentam nível de pressão arterial acima de 180mmHg/110mmHg;

– Gestante com alteração de pressão arterial;

–  Pessoas com lúpus ou em uso de agente quimioterápico representam a maior parte dos casos atendidos no HSL.

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