Estatísticas e Análises | 15 de abril de 2016

Mutação em DNA de descendentes de vegetarianos pode aumentar risco de câncer e outras doenças

Cientistas dos EUA detectam alteração genética que aumenta as inflamações no corpo
Mutação em DNA de descendentes de vegetarianos pode aumentar risco de câncer e outras doenças

Uma descoberta feita por cientistas da Universidade de Cornell (EUA) indica que pessoas com antepassados vegetarianos podem ter uma mutação genética que aumenta as chances de surgimento de cânceres e complicações cardíacas.

Após análise genética de populações com histórico de alimentação com e sem carne, os investigadores detectaram, entre os vegetarianos, uma alteração que leva à produção do ômega-6 em grande quantidade. O ácido graxo, essencial ao organismo, pode causar afecções diversas quando há excesso, aumentando principalmente o risco de tumores no cólon e outras doenças. O trabalho, iniciado em 2012, focou em células humanas. Na ocasião, os cientistas detectaram alterações no DNA relacionadas à produção de ácidos graxos. A partir disso, examinaram grupos com históricos alimentares distintos.

Entre os objetivos estava compreender a evolução humana e suas implicações para a saúde humana. “Sabemos que a adaptação genética da dieta ao local em que se vive não é rara durante a transformação da espécie. Por isso, resolvemos analisar grupos diferentes”, explicou Kaixiong Ye, um dos autores do estudo e pesquisador da Universidade de Cornell.

O DNA de duas populações foram comparados: moradores da cidade de Pune, na Índia, que tinham um histórico de alimentação sem carne, e norte-americanos carnívoros da cidade de Kansas. A equipe observou uma mutação chamada rs66698963 no grupo indiano, uma falha genética que aumenta o ácido araquidônico, uma ômega-6 com efeitos anti-inflamatórios, mas que pode ter resultado reverso quando produzido em excesso. Os efeitos também ocorrem em quem, mesmo descendente de vegetarianos, não segue a dieta sem carne. “O ácido araquidônico pode ser absorvido diretamente pelo óleo vegetal, pelas carnes e pelos frutos do mar. Uma pessoa que consome grande quantidade desses alimentos e tenha a mutação pode ter o acúmulo da substância que causa as aludidas afecções”, explica Ye. “A incompatibilidade entre o nosso genoma e nosso estilo de vida leva às doenças”, completou o pesquisador.

Para evitar os riscos de doenças inflamatórias em pessoas com a mutação rs66698963, os pesquisadores afirmam que a melhor saída é a mudança alimentar. Óleos como o azeite (rico em ômega-9), o de girassol (alta quantidade de ácido oléico), o de cártamo, o de soja, e o de amendoim são mais seguros para as pessoas com ancestrais vegetarianos.

Os autores da pesquisa pretendem estudar outras populações para avaliar a distribuição da mutação em escala global. “Também pretendemos compreender os detalhes entre ela e as enfermidades cardíacas e o câncer de cólon. De forma mais ampla, acreditamos que muitas adaptações dietéticas aconteceram durante a evolução humana e estamos tentando descobrir mais sobre elas”, confirma Kaixiong Ye.

Vale ressaltar que a mutação genética observada “ocorreu há muito tempo no genoma humano e foi transmitida através das gerações”, dizem os pesquisadores. As pessoas que são ou foram vegetarianas por alguns anos – ou cujos antepassados ​​comiam carne – a priori, não são afetadas.

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