Mundo, Política | 27 de maio de 2015

Governo alemão cria nova estratégia para conter superbactérias

Após Reino Unido e EUA, país europeu cria recomendações sobre o tema
Governo alemão cria nova estratégia para conter superbactérias

A Alemanha espera retardar o desenvolvimento e a disseminação de superbactérias resistentes a antibióticos, na medicina e agricultura, com a sua nova estratégia, chamada DART 2020.

Para reduzir a propagação de bactérias altamente perigosas, a DART 2020 cobra informações mais rigorosas, controle mais intenso e investigação orientada. Críticos, no entanto, acreditam que a medida não é suficiente para conter a utilização em larga escala de antibióticos na pecuária.

O documento, assinado dia 13 de maio pela chanceler alemã, Angela Merkel, inclui medidas para aumentar os sistemas de monitoramento para a identificação precoce de patógenos e de resistência a antibióticos. Outra exigência é a comunicação da existência de novos agentes patogênicos multi-resistentes. O plano indica intenções de aumentar os serviços de educação e formação complementar para os trabalhadores da saúde. A nova estratégia alemã exigirá que hospitais divulguem informações adicionais sobre normas de higiene nos seus relatórios de qualidade.

Junto à indústria farmacêutica, o governo pretende discutir possíveis obstáculos na pesquisa e no desenvolvimento de novas drogas. A resistência aos antibióticos muitas vezes tornam as infecções bacterianas mais difíceis ou impossíveis de tratar. Em instituições da Alemanha, entre 400 mil e 600 mil pessoas são infectadas a cada ano, resultando entre 10 mil a 15 mil mortes.

Em reportagem do EurActiv, o ministro da saúde alemão, Hermann Grohe, destacou que “a disseminação mundial de superbatérias deve ser parada”, alertou. “Se os antibióticos não são eficazes, as opções de tratamento poderiam retornar aos de uma época pré-penicilina”. O ministro resume o projeto lembrando que “nenhum país pode parar o crescimento mundial em resistências aos antibióticos sozinho”.

Os EUA também trabalham em estratégias para combater o problema (http://setorsaude.com.br/eua- prepara-plano-de-5-anos-para- combater-superbacterias/). Um plano de ação comum está previsto para ser concluído em conjunto com a Organização Mundial de Saúde (OMS).

Estudos de diferentes centros acadêmicos trazem previsões catastróficas (leia mais em http://setorsaude.com.br/ 80-mil-pessoas-poderao-morrer- por-causa-das-superbacterias/) . Uma equipe liderada pelo economista Jim O’Neill, ex-presidente do grupo financeiro Goldman Sachs e responsável por cunhar o termo Brics para definir o conjunto de países em desenvolvimento (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), divulgou um relatório encomendado pelo governo britânico sobre o tema.

O documento alerta a necessidade da comunidade internacional se reunir em torno de um projeto para, nos próximos cinco anos, estimular a indústria farmacêutica a desenvolver uma classe de antibióticos capaz de eliminar as superbactérias. Os custos dessa política podem chegar a US$ 37 bilhões ao longo de dez anos. De acordo com o relatório, as superbactérias podem matar, a partir de 2050, 10 milhões de pessoas por ano, e as perdas econômicas seriam de US$ 100 trilhões, de 2014 a 2050.

O impacto pode ser ainda mais devastador nos países em desenvolvimento e economias mais pobres. Ao jornal O Globo, o especialista diz que “quanto maior a população, maiores as consequências. A China e a Índia podem perder nada menos que um milhão de pessoas por ano, e a Nigéria, 25% do seu PIB”, considera.

Em novembro de 2010 a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) passou a obrigar farmácias e drogarias a exigir receita médica para a venda de antibióticos, com prescrição feita em duas vias e a validade da receita de dez dias. Em abril de 2011 as embalagens e bulas também passaram a incluir a frase “Venda sob prescrição médica – só pode ser vendido com retenção da receita”. A proposta visa restringir e tornar mais rígidas as vendas de antibióticos no Brasil. A ideia é conter a venda indiscriminada de antibióticos e a prática recorrente de a população adquirir estes medicamentos sem a necessária prescrição médica.

Consultada pelo Portal Setor Saúde sobre ações ou estratégias mais abrangentes que contemplem o controle do uso de antibióticos em animais – como parceria com o Ministério da Agricultura -, a Anvisa não respondeu aos diversos contatos feitos pela reportagem.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) mais da metade das prescrições de antibióticos feitas no mundo é inadequada. Exames como o antibiograma, que ajudam o médico a escolher o antibiótico mais apropriado para o paciente, é um caminho para minimizar o problema. Outra análise que auxilia a prescrição correta é a procalcitonina (PCT), que diagnostica a infecção bacteriana grave do organismo e pode, assim, diminuir os efeitos colaterais das medicações, bem como da resistência bacteriana e de custos hospitalares, pois pode auxiliar na retirada de antibióticos.

 

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