Estatísticas e Análises | 23 de agosto de 2016

Fosfoetanolamina mostra resultados positivos pela primeira vez

Resultados, porém, são “menores" do que os de quimioterápicos já rotineiramente utilizados
Fosfoetanolamina mostra resultados positivos pela primeira vez

Testes da substância fosfoetanolamina, que ficou conhecida como “pílula do câncer”, apresentam, pela primeira vez, resultados na inibição de crescimento de células cancerígenas introduzidas em camundongos. Apesar de o efeito ser menos satisfatório percentualmente do que o de drogas quimioterápicas convencionais (como a ciclofosfamida, que consegue 93% de inibição), este terceiro teste é considerado positivo: houve redução do desenvolvimento do câncer em 64% sem provocar efeitos colaterais. Na próxima fase, a droga será testada em humanos.

“O resultado é alentador. Ainda que menor (que os de quimioterápicos já usados), é significativo, porque, se isso se confirmar em seres humanos, o uso da fosfoetanolamina tem a vantagem de provocar poucas alterações das funções”, explica Odorico de Moraes, professor titular de Farmacologia Clínica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC). Ele é o diretor do Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos e um dos coordenadores do estudo do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC).

Anteriormente, a fosfoetanolamina havia sido testada sem sucesso em um sarcoma (câncer em tecido conjuntivo) e em um carcinosarcoma (câncer em tecido epitelial e conjuntivo). Desta vez, a substância teve a ação investigada em melanoma B16F10 (tipo de câncer de pele) inoculado em camundongos. Ainda haverá um quarto teste, dessa vez para combater leucemia.

Os resultados divergentes em diferentes tipos de câncer ainda são alvo de estudo. “Podemos especular que um câncer age no sistema imunológico e outro não. E que, se o mecanismo de ação da fosfoetanolamina — que ainda também é estudado —, for na síntese de antígenos que são reconhecidos pelo sistema imunológico, ela combate o desenvolvimento desse câncer”, detalha.

O pesquisador comenta que acompanha pacientes que conseguiram, com mandado judicial, a permissão para o uso da substância. Em alguns deles, mesmo sem a confirmação da redução do tumor cancerígeno pela ação da fosfoetanolamina, há melhora na qualidade de vida que pode ser vinculada à posologia da substância. “Essa é uma possibilidade que também é estudada”.

Estudos

O professor aponta que, durante os testes em camundongos, ainda é usada subdose de, no máximo, 1.000 miligramas por quilo (mg/kg) de animal. “A dose correta e que poderá surtir melhores resultados será determinada na etapa seguinte, que é a de teste de segurança em humanos”, comenta.

Na próxima fase do estudo 64 voluntários sadios serão monitorados e receberão doses crescentes do composto, para que seja determinada a porção em que não há alterações dos parâmetros bioquímicos, cardíacos e hepáticos.

Esse estágio deve ter início após aprovação do comitê de ética, em setembro, e seguirá até a primeira metade de 2017, quando estão previstos os testes em pacientes com câncer.

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