Estatísticas e Análises | 10 de fevereiro de 2016

Estudo sugere que omeprazol aumenta risco de doença renal crônica

Especialistas pedem cautela com medicamentos deste tipo
Estudo sugere que omeprazol (e esomeprazol) aumentam risco de doença renal crônica

Drogas como omeprazol e esomeprazol, os inibidores da bomba de prótons (IBPs), atuam bloqueando a produção de ácido no estômago, prevenindo complicações como úlceras. Esses fármacos podem estar associados a um risco aumentado de doença renal crônica, como indica um estudo da Universidade Johns Hopkins (EUA), publicado no JAMA Internal Medicine.

Notícias e estudos anteriores já destacaram alguns fatos preocupantes do uso de Inibidores da Bomba de Prótons (IBPs), utilizado para reparar úlceras e outros danos no estômago, no duodeno e no esôfago. A redução da acidez, provocada pelo medicamento, pode interferir na absorção de nutrientes e tornar o ambiente vulnerável a infecções (http://setorsaude.com.br/medicamentos-como-omeprazol-estao-sendo-reavaliados-dentro-dos-hospitais/) em pacientes internados em hospitais. Se usados em altas doses e por muito tempo, podem prejudicar a absorção de nutrientes, vitaminas e minerais, e aumentar o risco de fraturas (http://setorsaude.com.br/uso-cronico-de-antiacidos-prejudica-absorcao-de-nutrientes-vitaminas-e-minerais/). Outros estudos relataram ligações entre o uso de inibidores da bomba de prótons e uma série de problemas de saúde, incluindo fraturas ósseas, níveis baixos de magnésio, lesões renais e possíveis interações com drogas cardiovasculares, e inclusive à demência (http://setorsaude.com.br/consumo-elevado-de-omeprazol-pode-levar-a-demencia/).

No entanto, os investigadores da Johns Hopkins salientam que, até o momento, não tinham sido realizados estudos populacionais que tivessem analisado a associação entre os fármacos e o risco de doença renal crônica.

O estudo quantificou a associação entre o uso de IBPs e a incidência de doença renal crônica na população geral, tendo por base os dados do estudo Risco de Aterosclerose nas Comunidades (ARIC, sigla em inglês), onde 10.842 adultos em quatro comunidades na Carolina do Norte, Mississippi, Minnesota e Maryland foram acompanhados ao longo de uma média de 14 anos. Para a análise foram também incluídos os dados da prescrição destes fármacos em ambulatório no Sistema de Saúde Geisinger, na Pensilvânia, onde 248.751 participantes foram acompanhados ao longo de uma média de seis anos.

Aqueles que tomavam os IBPs apresentavam um risco de 20% a 50% maior de desenvolver insuficiência renal crônica do que os não usuários, de acordo com Morgan Grams, nefrologista e epidemiologista do Johns Hopkins e a principal autora da investigação. Embora tenha sido demonstrada uma associação, não ficou clara uma causa direta entre os medicamentos e os riscos.

Na amostra da Pensilvânia, os pesquisadores documentaram um efeito de dose. O risco de insuficiência renal crônica crescia 15% entre quem ingeria a medicação uma vez por dia e 46% em quem tomava duas vezes por dia, na comparação com não usuários. “Isso nos leva a acreditar em um efeito causal”, disse Morgan.

A doença renal é bastante comum, principalmente entre idosos, e o número de usuários desses medicamentos é enorme. Pessoas acima dos 65 anos devem prestar atenção especial, por terem maior chance de sofrer refluxo, em parte porque o músculo que impede o ácido estomacal de subir para o esôfago enfraquece com a idade, e são mais vulneráveis a doenças e síndromes associadas a elas.

No início do estudo, verificou-se que os indivíduos, dos dois grupos, que tomavam inibidores da bomba de prótons eram mais propensos a terem um índice de massa corporal elevado, a tomarem antidepressivos, aspirina ou estatinas.

Os investigadores apuraram que no grupo ARIC ocorreram 56 eventos de doença renal crônica em 322 indivíduos que tomavam inibidores da bomba de prótons no início do estudo (14,2 por 1000 pessoas/ano) e 1.382 eventos entre os 10.160 participantes que não tomavam este tipo de fármacos (10,7 por 1000 pessoas/ano). De acordo com a análise ajustada e não ajustada, o uso de IBPs foi associado a um risco de incidência de doença renal crônica. Em 10 anos, o risco absoluto de doença renal crônica, entre os 322 indivíduos que tomavam inibidores da bomba de prótons no início do estudo foi de 11,8%, enquanto o risco para aqueles que não tomavam este tipo de fármacos foi de 8,5%.

No segundo grupo, ocorreram 1.921 eventos de doença renal crônica nos 16.900 indivíduos que tomavam inibidores da bomba de prótons no início do estudo (20,1 por 1000 pessoas/ano) e 28.226 eventos entre os 231.851 participantes que não tomavam este tipo de fármacos (18,3 por 1000 pessoas/ano). O risco absoluto de doença renal crônica, em 10 anos, entre os 16.900 indivíduos que tomavam inibidores da bomba de prótons no início do estudo foi de 15,6%, enquanto o risco para aqueles que não tomavam este tipo de fármacos foi de 13,9%.

A descoberta levou a Sociedade de Geriatria Americana, em 2015, a acrescentar os IBPs à lista batizada de “Critérios de Beers” para medicação potencialmente inapropriada para uso em idosos, citando risco de perda óssea, fraturas e infecção por Clostridium difficile. O órgão regulador norte-americano, FDA, também divulgou alertas de segurança sobre as associações dessas drogas com a Clostridium difficile e risco de fratura.

Importante ressaltar que inibidores da bomba de prótons podem ser medicações cruciais para quem tem úlcera péptica, entre outros, e a opção mais eficaz para refluxo severo. O uso deve ser de curto prazo. Para quem utiliza há anos, o recomendado é diminuir gradualmente os inibidores de bombas de prótons para ver se ainda são necessários, ou trocá-los por uma classe anterior de drogas menos potentes (bloqueadores de H2).

Como agem os antiácidos:

Estômago – Produz o suco gástrico, composto por ácido clorídrico e enzimas que dissolvem o alimento e o preparam para ser lançado no intestino. O suco também ajuda a destruir bactérias presentes nos alimentos.

Mucosa – A parede estomacal é continuamente lesada pela ação do suco gástrico e regenerada.

Alteração – Quando ocorre um desequilíbrio, a mucosa pode inflamar (gastrite) ou ser ferida (úlcera). Também pode acontecer de os alimentos voltarem para o esôfago (refluxo), causando a azia.

Antiácidos – Os antiácidos alcalinos neutralizam o ácido no estômago. Têm ação rápida, mas não resolvem a longo prazo. Os antiácidos antissecretores diminuem a secreção ácida. Os mais usados são os inibidores da bomba de prótons (IBP).

VEJA TAMBÉM