Estatísticas e Análises | 19 de novembro de 2015

Entidades divulgam nota conjunta sobre rastreamento de Câncer de Próstata

Reforçam o posicionamento do secretário da saúde do RS, João Gabbardo
Entidades divulgam nota conjunta sobre rastreamento de Câncer de Próstata

A Secretaria da Saúde (SES), o Serviço de Urologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, a Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e o TelessaúdeRS/UFRGS divulgaram nota conjunta de esclarecimento sobre o câncer de próstata. No começo do mês, o Secretário da Saúde, João Gabbardo, defendeu que testes diagnósticos como PSA e toque retal não deveriam ser feitos de forma indiscriminada, mas somente em alguns poucos casos.

A nota das entidades é assinada pelos médicos José Geraldo Lopes Ramos, Milton Berger, Brasil Silva Neto e Erno Harzheim, além do titular da Secretaria da Saúde.

Entre as conclusões, as entidades consideram que não existem argumentos consistentes que justifiquem o rastreamento populacional sistemático, ou seja, submeter todos os homens a exames de toque retal e dosagem de PSA, de uma forma global e indiscriminada. Na nota, também reforçam que o rastreamento não é indicado como estratégia de saúde pública e recomendam o rastreamento individual em homens com fatores de risco para o desenvolvimento da doença, como história familiar e presença de sintomas.

Confira abaixo a nota na íntegra:

Nota Conjunta da Secretaria Estadual de Saúde do Rio Grande do Sul, Serviço de Urologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e TelessaúdeRS/UFRGS sobre o Câncer de Próstata.

Considerando que:

1 – Câncer de Próstata é o tumor maligno mais frequente na população masculina após Câncer de Pele, e causa importante de mortalidade nesta população;

2 – o Estado do Rio Grande do Sul e a cidade de Porto Alegre apresentam as mais altas taxas de incidência e mortalidade desta doença entre os estados e capitais do Brasil;

3 – o Câncer de Próstata é uma doença de agressividade biológica não uniforme que, na maioria dos indivíduos afetados, apresenta comportamento indolente e de lenta evolução, mas, que, numa pequena parcela dos indivíduos afetados, pode ter comportamento agressivo e abreviar sua expectativa de vida;

4 – as estratégias de rastreamento (detecção em indivíduos sem sintomas) de Câncer de Próstata atualmente existentes (dosagem de PSA e toque retal) apresentam baixa acurácia, havendo necessidade de rastrear um grande número de indivíduos para encontrar Câncer de Próstata em pequeno número deles, e, para afastar ou comprovar a existência de Câncer de Próstata, estes indivíduos são submetidos a exames invasivos (biópsia) com potencial morbidade;

5 – atualmente, não há teste diagnóstico que diferencie com precisão aqueles indivíduos com Câncer de Próstata indolente, que provavelmente não necessitam de tratamento, daqueles indivíduos com Câncer de Próstata agressivo, que certamente necessitam de tratamento;

6- e que os resultados dos estudos mais consistentes já publicados sobre rastreamento populacional sistemático de Câncer de Próstata apresentam resultados conflitantes sobre a existência ou não de benefício e sua magnitude.

As instituições e serviços supracitados, à luz do conhecimento atual,

1 – pela incerteza do benefício, avaliam não haver argumentos consistentes para recomendar o rastreamento populacional sistemático para Câncer de Próstata e contraindicam esta ação como estratégia de saúde pública;

2 – recomendam o rastreamento individual de  Câncer de Próstata em homens com fatores de risco para desenvolvimento da doença, como indivíduos com história familiar (irmãos e/ou pai) de Câncer de Próstata e/ou indivíduos de raça negra, apesar de os estudos que relacionam raça com Câncer de Próstata no Brasil serem inconsistentes;

3 – reforçam que os profissionais médicos dispõem de diversas estratégias baseadas em orientações e recomendações de sociedades médicas para individualizar a necessidade ou não de rastrear Câncer de Próstata para cada indivíduo específico;

4- sugerem que os homens procurem as Unidades Básicas de Saúde, seu médico ou médico-urologista de confiança para receber orientações sobre Câncer de Próstata e, em decisão compartilhada, decidam sobre a adequação ou não de realizar rastreamento para Câncer de Próstata, pesando os potenciais riscos e benefícios da estratégia, assim como o estado de saúde, os valores e as preferências dos pacientes;

5 – reforçam a necessidade de que homens com qualquer sintoma relacionado ao aparelho urinário procurem atendimento médico para elucidação diagnóstica e conduta;

6 – e enfatizam para a população masculina do estado a importância de hábitos de saúde comprovadamente benéficos, tais como, praticar exercícios físicos, alimentar-se saudavelmente, evitar sobrepeso, não fumar e cuidar de sua saúde em geral.

As instituições supracitadas estão atentas ao debate científico e se comprometem a atualizar estas recomendações de acordo com novas evidências que venham a surgir sobre rastreamento de Câncer de Próstata.

Concordam com o conteúdo acima e assinam este documento:

João Gabbardo dos Reis – Médico Pediatra, Professor da Graduação do Curso de Medicina da Universidade Católica de Brasília, Secretário Estadual de Saúde do Rio Grande do Sul.

José Geraldo Lopes Ramos – Médico Gineco-Obstetra, Diretor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Milton Berger – Médico Urologista, Professor de Urologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Adjunto-Cirúrgico da Vice-Presidência Médica do Hospital de Clinicas de Porto Alegre.

Brasil Silva Neto – Médico Urologista, Professor de Urologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Chefe-Substituto do Departamento de Cirurgia Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Chefe do Serviço de Urologia do Hospital de Clinicas de Porto Alegre.

Erno Harzheim – Médico de Família e Comunidade, Professor de Medicina de Família e Comunidade da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Coordenador do TelessaúdeRS/UFRGS.

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