Empregabilidade e Aperfeiçoamento, Gestão e Qualidade | 15 de julho de 2015

As 15 “doenças” da liderança, segundo o Papa Francisco

Problemas que podem prejudicar gestores e instituições
VATICAN CITY, VATICAN - MARCH 27:  Pope Francis waves to the crowd as he drives around St Peter's Square ahead of his first weekly general audience as pope on March 27, 2013 in Vatican City, Vatican. Pope Francis held his weekly general audience in St Peter's Square today  (Photo by Christopher Furlong/Getty Images)

Gary Hamel é um influente pensador do mundo dos negócios, professor da London Business School, e autor de livros e artigos para The Wall Street JournalFortuneThe Financial Times, entre outros. Em seu mais novo artigo para a Harvard Business Review, revista norte-americana especializada em gestão, Hamel apresenta as “doenças” de liderança sob o ponto de vista de um dos principais “gestores” do mundo atual, o Papa Francisco.

Hamel destaca que costuma ouvir especialistas em gestão enumerando as qualidades dos grandes líderes. “Raramente, porém, eles falam abertamente sobre as ´doenças´ de liderança. O Papa é mais direto. Ele entende que, como seres humanos temos certas tendências, não todas nobres. O âmbito de influência dos líderes faz com que as suas doenças, se tornem especialmente infecciosas”, destaca o especialista.

O Papa Francisco tem se destacado pela declarada intenção de reformar radicalmente as estruturas administrativas da Igreja Católica, que ele considera insular e burocrática. Em 2014, pouco antes do Natal, ele se dirigiu aos líderes da Cúria Romana (cardeais e outros dignitários da Igreja) de forma contundente. A mensagem para seus colegas dirigentes do Vaticano é de que cargos de liderança são suscetíveis a uma variedade de “doenças” debilitantes, incluindo arrogância, intolerância, miopia e avareza. Quando essas doenças não são tratadas, a própria organização fica enfraquecida.

Segundo Gary Hamel, a Igreja Católica é uma hierarquia povoada por bom coração, mas não necessariamente por almas perfeitas. Nesse sentido, não é muito diferente de outras organizações. É por isso que os conselhos do Papa são relevantes para os líderes em todos os lugares.

O escritor passou um par de horas traduzindo o discurso do Papa em algo próximo da linguagem corporativa. E acrescentou: “eu não sei se há uma proibição de parafrasear pronunciamentos papais, mas como eu não sou católico, eu estou disposto a assumir o risco”.

Gestores (de qualquer setor) são tão sensíveis a patologias quanto qualquer ser humano. Mas, quando elas não são tratadas, o trabalho de toda uma equipe pode desmoronar.

Veja a seguir as “doenças” listadas pelo Pontífice Romano  e como elas comprometem a “saúde da liderança”:

1- Pensar que somos imortais, imunes ou indispensáveis

O líder que não tem auto-crítica e se julga acima daqueles que trabalham para ele sofre da “patologia do poder”. Essa pessoa é tomada por um complexo de superioridade e deixa de se importar com a autocrítica. É a patologia do poder e vem de um complexo de superioridade, a partir de um narcisismo que apaixonadamente olha para sua própria imagem e não vê o rosto dos outros, especialmente dos mais fracos e os mais necessitados. O antídoto para essa praga é a humildade.

2 – Trabalho em excesso

Pessoas que mergulham no trabalho sem reservar tempo para o descanso, acabam se estressando e perdendo a concentração. A ocupação excessiva mostra desequilíbrio entre trabalho e vida pessoal. Um tempo de descanso é necessário e permite recarregar as energias. Negligenciar o descanso necessário leva ao estresse. Um tempo de descanso, para aqueles que tenham concluído o seu trabalho, é necessário, obrigatório e deve ser levado a sério: como passar o tempo com a família e respeitando as férias como momentos para recarregar as energias.

3 – “Petrificação”

Líderes que tem um “coração de pedra” tendem a perder serenidade, agilidade e ousadia. Substituir a sensibilidade humana por pura formalidade também é perigoso quando se lida com um grupo. Como afirmou o Papa, “um líder precisa de desprendimento e generosidade.” No decorrer do tempo, perdem a sua serenidade interior, agilidade e ousadia, e se escondem debaixo de uma pilha de papéis, transformando-se em “empurradores de papel”. É perigoso perder a sensibilidade humana que nos permite chorar com os que choram e se alegrar com os que se alegram! Porque, como o tempo passa, os nossos corações crescem duro e se tornam incapazes de amar todos aqueles que nos rodeiam. Ser um líder humano significa ter os sentimentos de humildade e altruísmo, de desprendimento, compaixão e generosidade.

4 – Planejamento sem limite

Quando um gestor planeja tudo até o último detalhe por medo do imprevisível, o processo criativo perde a espontaneidade. Organização é importante, desde que haja espaço para a intuição e o improviso.

5 – Falta de coordenação

Se um líder perde o senso de comunidade e o objetivo de integrar seu grupo, o sistema todo perde equilíbrio. A equipe que não é regida com “camaradagem” e trabalho conjunto vira “uma orquestra que produz ruído”, comprometendo resultados.

6 – “Alzheimer” da liderança

Acontece quando um líder se esquece da gratidão que deve àqueles que sempre o apoiaram ou trouxeram inspiração. Tal reconhecimento não deve perder lugar para “caprichos” e “obsessões”.

7 – Rivalidade

O cargo de líder não serve para contar vantagem sobre os outros, alcançando “títulos” como objetivo principal da vida. O dever fundamental do líder é justamente o oposto: atentar-se para os interesses e anseios da equipe. Como líderes, devemos olhar não só para os nossos próprios interesses, mas também para os interesses dos outros.

8 – “Esquizofrenia existencial”

É a doença de quem vive uma vida dupla e marcada pela hipocrisia. Acontece quando o gestor se isola de clientes e funcionários (pessoas concretas) e se dedica apenas a questões burocráticas, perdendo contato com a realidade.

9 – Fofoca

A fofoca é considerada, pelo Papa, como uma “grave doença” que começa às vezes em uma conversa simples, mas pode sujar o nome de um colega e contaminar a harmonia que existe numa equipe. É a doença de pessoas covardes que não têm a coragem de falar diretamente, mas em vez disso falam pelas costas dos outros.

10 – Idolatria dos superiores

É a patologia que atinge aqueles que cortejam seus superiores com o interesse de ganhar uma promoção. São vítimas de carreirismo e oportunismo; honram pessoas [em vez da maior missão da organização]. Eles pensam apenas do que eles podem obter e não o que eles devem dar; pessoas mesquinhas, infelizes e inspiradas apenas pelo seu próprio egoísmo letal. Para isso, deixam de lado os objetivos da equipe como um todo. Líderes são afetados por esta doença quando incentivam e tiram proveito da cumplicidade de seus subordinados.

11 – Indiferença

Quando o líder só pensa em si mesmo e perde a sinceridade e o calor verdadeiro das relações humanas. Acontece quando o profissional mais experiente não compartilha seu conhecimento com aqueles que estão começando. Por “ciúmes” ou “engano”, a pessoa guarda para si o aprendizado que poderia ser útil para o desenvolvimento da equipe. E ainda, quando por ciúmes, a pessoa fica feliz em ver outros caírem em vez de ajudá-los e encorajá-los.

12 – Excesso de severidade

Ocorre com o gestor que acredita que, para ser sério e respeitado, é preciso ser severo, arrogante ou rude. Na verdade, o excesso de severidade é um sintoma de medo e insegurança. Sempre que possível, o líder deve se esforçar para ser cortês, bem humorado e transmitir entusiasmo. Um líder deve fazer esforço para ser cortês, sereno, entusiasmado e alegre, ser “uma pessoa que transmite alegria onde quer que vá”. Um coração feliz irradia uma alegria contagiante. Assim, um líder nunca deve perder a alegria, o espírito bem-humorado, mesmo em momentos difíceis.

13 – Acumulação compulsiva

Quando o líder tenta acumular bens materiais, não por necessidade, mas para se sentir seguro. Segundo palavras do Papa Francisco, nenhuma riqueza pode preencher o “vazio de um coração”. O fato é que não somos capazes de trazer bens materiais quando deixarmos esta vida, uma vez que “a mortalha não tem bolsos”.

14 – Círculos fechados

Acontece quando a vontade de pertencer a um grupo “seleto” de líderes se torna maior do que a identidade de uma equipe. Começa com boas intenções, mas pode acabar fragmentando uma organização. Com o passar do tempo escraviza seus membros e se torna um câncer que ameaça a harmonia da organização, provocando um imenso mal, especialmente para aqueles que tratamos como outsiders. “Fogo amigo” dos seus colegas é o perigo mais insidioso – começa vagarosamente sem apresentar sintomas específicos -. É o mal que atinge a partir de dentro. Como diz a Bíblia, “Todo o reino, dividido contra si mesmo, é devastado.”

15 – Extravagância e exibicionismo

Ocorre com pessoas que tentam acumular poder a qualquer custo e fazem de tudo para deixar “claro” que são mais capazes que os outros. Podem usar calúnia, difamar e desacreditar os outros;  e se colocam em exposição constante para mostrar que são superiores. Esta doença causa grande dano porque leva a pessoa a justificar o uso de quaisquer meios para atingir o objetivo, muitas vezes em nome da justiça e transparência! Gary Hamel exemplifica, lembrando-se de um líder que costumava chamar jornalistas para contar e inventar questões privadas e confidenciais envolvendo seus colegas. A única coisa com que ele estava preocupado era de ver a si mesmo na “primeira página”, fazendo-o se sentir poderoso e fascinante, causando um grande dano para os outros e para a organização.

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Gary Hamel

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