Acreditação | 3 de dezembro de 2014

Gestores e Interpretações sobre a Acreditação

Gestores e Interpretações sobre a Acreditação

Se a acreditação é uma maneira segura de ordenar e melhorar a gestão das organizações de saúde, por que os gestores manifestam-se tão reservados em ingressar neste processo?

Existem algumas hipóteses plausíveis. A primeira considera que a acreditação não agrega valor às atividades organizacionais; a segunda conjetura que se constitui em uma metodologia que não avalia apropriadamente a complexidade das organizações de saúde; a terceira classifica como sinônimo de “certificado” dentre tantos existentes no mercado; a quarta supõe a acreditação como um modismo.

1)   Acreditação não agrega valor às atividades organizacionais

A acreditação contribuiria pouco ou nada para a consistência dos processos e resultados assistenciais e administrativos. Seria apenas uma mensuração genérica sem impacto expressivo sobre as organizações como um todo, e, portanto, um desperdício de recursos.

Evidência: a acreditação encoraja os gestores a esforçarem-se para que suas organizações atinjam padrões cada vez mais elevados, através da aplicação dos princípios da melhoria contínua da qualidade. Isso tem implicações assistenciais e econômico-financeiras positivas.

2)   Acreditação não avalia apropriadamente a complexidade das organizações de saúde

A acreditação exigiria muito e ofereceria pouco. Objetivamente restaria o aval externo de destaque à imagem institucional que usualmente já se encontra difundida e consolidada. Logo o ganho institucional seria pífio.

Evidência: os padrões dos programas de acreditação são elaborados tendo em conta três domínios: estrutura, processos e resultados. Consiste, portanto, de uma avaliação bastante ampla que abarca desde pessoas, instalações, equipamentos, materiais, medicamentos e informações, passando pelas atividades de processamento, e chegando aos resultados assistenciais e administrativos, adicionado da articulação com o público em geral e concorrentes do setor. Isso, do ponto de vista prático, oferece subsídios para a tomada de decisões com maior possibilidade de êxito, seja pelo impedimento/redução de prejuízos, seja pelo aproveitamento/ampliação das oportunidades.

3)   Acreditação como sinônimo de um certificado

Considerar a acreditação exclusivamente como um certificado é uma interpretação tola que por vezes conduz alguns gestores à ideia de que poderiam “comprá-la” e receber, em curto espaço de tempo, esse “mérito”. Concebem-na como uma distinção sem engajamento com a segurança e a qualidade da gestão. Essa atitude, aliás, distancia-se do propósito da acreditação que parte do princípio que deve basicamente existir retidão nos gestores, avaliadores e instituições acreditadoras.

Evidência: A acreditação será tanto mais valorizada quanto mais remota for sua utilização no sentido de ludibriar clientes/pacientes e seus familiares, colaboradores, proprietários e comunidade em geral. Ela encerra um compromisso de melhoria da segurança e qualidade dos serviços e dos cuidados. Ela contribui para o progresso do nível de desempenho existente para um nível mais elevado, sem dar tréguas à complacência e aceitação de falhas que possam prejudicar a todos, em particular os clientes/pacientes.

4)   Acreditação como uma moda passageira

A acreditação seria um modismo e, como tal, tendente a desaparecer do cenário das organizações de saúde.

Evidência: a acreditação encontra-se implantada em cerca de 80 países. Lutar contra essa realidade é uma batalha cara e perdida. Quanto mais os gestores demorarem em adotar a acreditação como instrumento de gestão, mais esforço e tempo despenderão para cumprir os padrões exigidos, uma vez que forçosamente a aplicação da metodologia implica em conseguir um determinado grau de maturidade organizacional, e isso demanda tempo.

A acreditação precisa ser entendida como uma forma de fazer o bem para os clientes/pacientes e seus familiares, colaboradores, proprietários e comunidade em geral. Os gestores experientes sabem que o objetivo econômico-financeiro é imprescindível, mas não o bastante para que as organizações perdurem. É preciso um sentido de valor mais abrangente, e isso pressupõe a consideração do aspecto humano e do maior benefício cabível que possa ser entregue a todos os interessados, em particular os clientes/pacientes e seus familiares. Nesse aspecto talvez resida a maior diferença entre as organizações de saúde e empresas de outras áreas, onde os serviços são prestados por pessoas para pessoas física e emocionalmente vulneráveis, e isso requer uma mistura de razão, sensibilidade e delicadeza.

Os gestores precisam discernir que a acreditação não é para as suas organizações, mas para os seus clientes. É uma forma tangível de demonstrar que amam o que fazem, que se encontram continuamente envolvidos na busca de atitudes e formas gerenciais que elevem a segurança e a qualidade dos serviços e cuidados, orientados pelo intenso comprometimento com as necessidades, preferências e valores dos clientes/pacientes e seus familiares.

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