Mundo | 16 de abril de 2016

A tragédia da falta de medicamentos na Venezuela

Desespero dos pacientes leva a mercado negro de remédios
A tragédia da falta de medicamentos na Venezuela

Pacientes venezuelanos com câncer, portadores de HIV, hipertensão e diabetes, entre outros problemas graves, precisam procurar por muitas farmácias em todo o país em busca de tratamento. A falta de medicamentos na Venezuela continua a ser uma tragédia indescritível, semanas após o Parlamento declarar uma “crise de saúde humanitária”, que gera, entre outras coisas, na falta de 872 medicamentos essenciais.

Os pacientes, com muitas dificuldades na busca de tratamento da toxicodependência, que precisam para sobreviver, estão morrendo de doenças banais. Solicitar medicamentos de outro país, via internet no mercado negro, é uma opção cada vez mais comum.

Cerca de 80% dos medicamentos vendidos na Venezuela já não estão mais disponíveis em farmácias e hospitais, de acordo com a ONG Codevida. Dependente das exportações de petróleo (com preços em queda constante), o país – que se denomina bolivariano – enfrenta o segundo ano consecutivo de grave e insuperável recessão.

A Federação de Medicina da Venezuela disse, dia 13 de abril, que os médicos do país tentam ajudar os pacientes utilizando os restantes 5% dos suprimentos médicos, incluindo drogas.

Como destaca reportagem do portal alemão Deutsche Welle, um exemplo da situação agonizante é a postagem, via Twitter, de Carlos Acuña, que tem em sua imagem de perfil, uma foto de sua filha no hospital. “Eu tenho apenas vinte dias para conseguir este medicamento para minha filha Isabella, que tem leucemia. É urgente. Ajudem, por favor”, apela ele. O remédio, no caso, é o asparaginase (da farmacêutica Medac GmbH), utilizado em quimioterapia. O frasco é importado por € 70. Segundo informou a empresa à Deutsche Welle, o comprador na Venezuela não encomenda o medicamento há dois anos.

O colapso do sistema de saúde da Venezuela deu origem a um mercado negro de medicamentos no Twitter. As postagens não fazem parte de uma campanha. Em geral, são mais diretas. A maioria é um pequeno texto, com o pedido de um medicamento e o número de telefone. Alguns, inclusive, clamam por um remédio e apresentam imagens da receita médica.

Algumas celebridades venezuelanas, como cantores e atores, também têm ajudado a popularizar os apelos.

O método tem funcionado, com muitas mensagens publicadas de fornecedores, com detalhes e preços expostos. Os medicamentos, no entanto, são produtos que sobraram em empresas privadas, cujos prazos de validade ainda não expiraram. A transação é ilegal, mas potencialmente “segura”. Poderiam, ainda, ser sobras privadas que expiraram ou que estragaram por outras razões (armazenamento inadequado, por exemplo).

Porém, no país que vive em meio a uma recessão, há o risco de fornecedores do mercado negro venderem medicamentos falsificados. Mas os venezuelanos estão desesperados e, por enquanto, ainda dispostos a aceitar tais riscos, causados pela falência total de um sistema de saúde que já foi, outrora, invejado na América Latina.

Enquanto isso, autoridades parecem ignorar esse mercado paralelo, enquanto dizem buscar uma solução. Políticos estão deliberando se o país declara ou não uma crise de saúde humanitária. Se assim ocorrer, a Venezuela poderia receber auxílio em forma de medicamentos da América Latina, da Europa e da Organização Mundial da Saúde.

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